Tuesday, September 30, 2008

Free Market e o Estado: crise de ideologias ?

Com a crise financeira nos EUA, mais do que nunca, discuti-se na media e no setor acadêmico a eficiência e a natureza dos sistemas econômicos. Em princípio, capitalismo caracteriza-se pela propriedade privada dos meios de produção, enquanto o socialismo se caracteriza pela concentração dos meios de produção no Estado. Claro que essas são concepções bem primárias e na verdade não refletem a complexidade das sociedades contemporâneas.

A discussão que gostaria de desenvolver é sobre papel do Estado, em especial falando dos EUA, na manuntenção do sistema econômico. Tradicionalmanete convém-se nos EUA, a idéia de "free-market", onde acredita-se que a expansão do mercado e da econômia funciona melhor com interferência mínima do governo. Geralmente as plataformas do partido republicano giram em torno dos princípios do "free-market" como: redução do governo, diminuição de impostos para os setores produtivos da econômia, desregulação dos mercados, etc.

O que vem acontecendo com a economia americana é justamente um questionamento direto dessas políticas baseadas no "free-market". Veja que por vários anos, aliados com as inovações das tecnologias da informação, o setor financeiro mundial propulcionou suas atividades em níveis nunca alcançados antes. Questiona-se atualmente se a crise é produto do "free-market" ou justamente da intensa interferência do governo. Penso que ambos processos estão interligados.

Anos atrás através de políticas promovidas pelo FED de juros baixos, aliados a políticas do governo que facilitavam o financimento de casas, a demanda por casas aumentou consideralmente o que teve um impacto imediato no valor das casas. Esse foi o princípio da famosa bolha imobiliária. A constante valorização das casas desencadeou um processo incontrolado de investimentos por parte dos bancos ao setor imobiliário. Linhas de crédito eram disponibilizadas, grandes capitais eram disponibilizados através da venda de casas, enfim criou-se artificialmente uma euforia que levou muitos bancos através de sub-primes loans aprovarem todos os tipos de clientes mesmo aqueles que não tinha condição de serem aprovados.

O que ocorreu foi a exaustão dos limites de real compra dos cidadãos americanos, aliado com as possibilidade de financiamento oferecidas pelo mercado, quando as ondas de valorização acabaram tornou-se impossível levar o sistema adiante, mas nesse ponto, todos incluindo bancos e donos de casas tiveram que se dar conta da irreversibilidade do problema.

O problema é sistêmico contudo representa ainda somente a ponto do iceberg, entre as plataformas dos candidatos a presidência ninguém fala da dívida pública, ou sobre as políticas monetárias do FED na desvalorização do dollar. A idéia de que se pode criar valor a partir do nada é ilusória, e pode consideralmente levar a economia americana ao colapso.

2 comments:

Roy Frenkiel said...

O maior problema da economia como tema central de uma campanha presidencial, eh que as pessoas nao entendem o suficiente para que os candidatos se deem a explicar. Ou seja, o que vende nessas eleicoes, especificamente, eh justamente a classica conceitualizacao da esquerda e da direita americanas, os conservadores versus os liberais, os independentes identificados ou independentes.

Porque, Ferdi, o problema ja eh dificil entender, quanto mais a solucao, seja ela qual for. Candidatos apenas dizem o que sabem que sua base aprova, e a propaganda gira mesmo ao redor disso. Sorrisos, esnobismo politico, certos chavoes politicos, e nada mais.

O que voce acha do bailout que tanto se discute?

abraxao

RF

Ferdinand Rafols said...

Então Roy, o que me assusta nos debates atuais é o desinteresse por questões estruturais da econômia principalmente ao que se refere a dívida pública, a insustentabilidade dos gastos públicos, políticas externas etc.

Olha o Bailout é o símbolo máximo da crise do sistema social e econômico em andamento nos EUA, e nesse sentido, questionei no post as políticas de free market que imperam aqui... Gosto da linha de interpretação do Ron Paul que vê a crise imobiliaria e do sistema financeiro justamente pela forte inteferencia do governo atraves do FED, e do estimulos do Fredie Mac and Fannie Mae...

No limite o modelo de reprodução social norte americano é insustentável e o Bailout é apenas uma medida palhativa para uma crise muito maior que relaciona-se com a dívida pública e o seguro social.